Deixa que digam, que pensem, que falem;
deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem?
Eu não estou fazendo nada, você também.
Faz mal bater um papo assim gostoso com alguém?2
Essa música expressa a visão pela qual o mundo enxerga um relacionamento a dois, entre pessoas de sexo diferente. O importante é curtir o momento e as sensações de uma relação emocional e física com alguém que me atrai. Não devo pensar nas conseqüências, apenas deixar o clima rolar e ver no que dá.
Infelizmente, essa visão distorcida não é exclusividade de incrédulos. Muitos cristãos demonstram imaturidade espiritual e emocional, ao lidarem com pessoas do sexo oposto e ao iniciarem um relacionamento de namoro com alguém. Como bem destacou Jayro Cáceres, “A nossa cultura tem torcido os valores bíblicos… As palavras ‘curtir e aproveitar’ têm substituído a palavra ‘preparar’”.3
Isso revela, de modo profundo, como há uma carência séria e triste da compreensão bíblica do que o namoro realmente significa e qual o seu propósito. O objetivo deste estudo, então, é fornecer a fundamentação e perspectiva bíblica para aqueles que pensam em namoro, preparando-os para os passos corretos, com um foco acertado e de um modo que honre e glorifique a Deus.
UM NAMORO COM PROPÓSITOS
É essencial para um namoro ter propósitos bem claros e delineados. Ainda que o casamento deva estar em foco, sempre, ele não é o propósito principal, mas conseqüência de outros dois propósitos que devem governar nossas vidas.
1. O namoro deve visar a glória de Deus – Rm 11.36; 1 Co 10.31; Cl 3.17
2. O namoro precisa ser uma caminhada rumo à imagem de Cristo – Pv 17.17; Rm8.29; Ef 4.15-16
Quando estes dois focos são bem claros, antes de tudo, na nossa vida de solteiro, então, saberemos conduzir um namoro agradável a Deus (Rm 12.1; Ef 4.9-10). Um namoro que honra a Deus, sem dúvida, visará o casamento, pois Deus, não criou o namoro em si, mas o casamento. A afeição compartilhada por um casal só tem sentido quando busca a lealdade e a intimidade profunda no casamento. Qualquer relacionamento que fuja disso é brincar com os sentimentos alheios e defraudação (1 Co 13.4-5; Fp 2.3-4; 1 Ts 4.3-6). Vejamos algumas
Fundamentações bíblicas:
1. O casamento faz parte do plano de Deus na criação da humanidade – Gn 2.18, 24.
2. O casamento reflete a imagem de Deus no homem, em que há diversidade eunidade, ao mesmo tempo – Gn 1.27.
3. No Antigo Testamento, o relacionamento pré-matrimonial entre dois jovens, deveria visar o casamento – Dt 22.23, 24 (esse texto mostra o grau de fidelidade que a noiva devia ao seu futuro marido, idêntico ao de uma mulher casada); Mt1.18-19, 24-25.
“No Oriente Próximo o noivado ... é quase tão definitivo como o próprio casamento. Na Bíblia a mulher comprometida em noivado era algumas vezes chamada de ‘esposa’ e estava obrigada à mesma fidelidade ... e o noivo era algumas vezes chamado de ‘esposo’”.4
4. O livro de Cantares mostra o amor romântico que se desenvolve no noivado (Ct 1.1. – 3.5) e se concretiza na aliança do casamento e na vida a dois (Ct 3.6 -8.14).
5. O casamento reflete a relação entre Cristo e a Igreja, previsto desde a eternidade por Deus e que reveste o casamento de dignidade - Ef 5.22-33.
A Bíblia não fala diretamente do namoro, mas apresenta o modelo do noivado que é oque mais se aproxima do namoro atual, em que dois jovens, se comprometem a buscarem a vontade juntos quanto à possibilidade de casamento e caminham nessa direção.5 Como foradestacado:
Quando dois jovens começam a namorar, isso não significa absolutamente que eles irão casar.Mas, deve significar, pelo menos, que eles pensam em se casar. Entregar a mão [...] e o tempo a uma pessoa com quem não se pensa em casar, é pecado.6 (grifo meu)
Quando o namoro busca o casamento, “elimina a idéia de curtição e acentua o seu caráter de preparação”.7 Pois o namoro “é uma fase de preparação para o casamento e mais uma oportunidade para o exercício da suprema tarefa da Humanidade, glorificar o nome de Deus”.8
PRINCÍPIOS ORIENTADORES
Dentro dos propósitos acima, alguns princípios orientadores precisam ser seguidos,
visando a glória de Deus no namoro:9
1. O namoro deve ocorrer apenas no contexto entre pessoas da mesma fé – 1 Co 7.39; 2 Co 6.14 – 7.1. “A Bíblia ensina com clareza que crentes não devem se colocar em jugo desigual (2 Co 6.14-16). A visão nítida, preto no branco, de 2 Coríntios 6 – justiça ou iniqüidade, luz ou trevas, Cristo ou o Maligno, crente ou o incrédulo, Deus ou ídolos – não dá margem a erro!”10.
“As Escrituras afirmam claramente que um cristão não deve nem considerar um cônjuge incrédulo”.11 “Ser crente é algo mais que confessar sua fé em Jesus Cristo. É também algo mais que ser membro de uma igreja. Ser crente é um estilo de vida. Na prática, significa que você ama a Jesus e está pronto a depender dEle mais que de seu cônjuge”.12 Muita dor pode ser evitada quando o crente decide se submeter fielmente a Deus nessa área. Um relacionamento íntimo com um incrédulo implica em deixar a visão bíblica de vida cristã e adotar à cosmovisão do(a) namorado(a), que está completamente distante de Deus e morto espiritualmente em seus pecados (Ef 2.1-3).
2. O namoro cristão deve ocorrer no contexto de um desenvolvimento da maturidade cristã – Ef 4.15-16; Cl 3.16. É imprescindível que as duas pessoas que pretendem iniciar um namoro, na direção de um casamento, estejam crescendo na sua fé pessoal com Cristo e juntamente com a igreja, como comunidade. Tanto o texto de Efésios como o de Colossenses que abordam a questão do casamento, a inserem dentro de um contexto de vida espiritual frutífera tanto pessoalmente como em comunidade (ver Ef 5.15-33; Cl 3.12-19).
3. O namoro cristão deve florescer dentro de afinidades cristãs e teológicas – Ec 4.12; Mc 3.24, 25. “Cristão” ou “evangélico” se tornaram termos tão gerais, que é necessário conhecer bem a pessoa, antes, de cultivar um relacionamento afetivo, em que se abra o coração ao outro. É muito importante a pessoa avaliar se o outro pensa de modo concorde a respeito de várias questões muito importantes. O que meu pretendente pensa a respeito de Deus, doutrinas da fé cristã (ex. 1 Jo 4.1-3), vida de devoção pessoal e comunitária, vida familiar, situações de conflito, trabalho e amigos, certamente, são muito importantes para se dar um passo na
direção de um namoro e casamento.
Há dois artigos em português muito úteis, que auxiliam a fazer perguntas acertadas quando um casal tem em mente o namoro e casamento. Um deles é Tópicos para conversação quando um homem e uma mulher estão considerando o casamento, de John Piper 13 (duas perguntas na parte de Marido e Esposa são recomendáveis apenas para noivos) e Devemos nos casar? de David Powlison e John Yenchko.14
4. O namoro cristão precisa visar objetivos futuros em comum - Am 3.3. “Unir-se significa andar na mesma direção que seu cônjuge ... Duas pessoas muito diferentes podem ter um casamento maravilhoso, mas há alguns aspectos básicos em que o acordo é necessário para que um homem e uma mulher possam se unir um ao outro”. Quando os três pontos acima são avaliados com honestidade e seguidos, então, há uma grande possibilidade de que este último seja observado com sucesso. Todavia, planos como futura profissão ou ministério, estilo de vida, entre outros, precisam ser avaliados com cuidado e ser percebido até que ponto um
se adapta ao plano e projeto do outro e está disposto a seguir com o relacionamento nas condições conversadas.
1 Bibliografia Consultada e de Apoio: D’ARAÚJO, Caio Fábio, Filho. Abrindo o jogo sobre o namoro. 4 ed. Venda Nova, MG: Betânia, 1985.; FERGUNSON, Sinclair B. Descobrindo a vontade de Deus. 2 ed. São Paulo: PES, 1997.; CÁCERES, Jayro M. Namoro: curtição ou preparação. In: SBPV. Ética Pesoal 1. Atibaia, SP:SBPV (Seminário Bíblico Palavra da Vida). (Apostila preparada para as aulas de Ética Pessoal no SBPV). p. 58;POWLINSON, David A., YENCHKO, John. Devemos nos casar?. In: SBPV. Aconselhamento Bíblico. 2 ed. Atibaia, SP: SBPV, 2000. v. 1. p. 118-127.; MACK, Wayne. Preparing for marriage. USA: Virgil Hensley, 1986.; PIPER, John. Tópicos para conversação quando um homem e uma mulher estão considerando casar. Cuiabá, MT: Monergismo, 2006. Disponível em www.monergismo.com.; MENDES, Alexandre Chiaradia. Uma perspectiva bíblica sobre o namoro. Atibaia, SP: SBPV, 2006. (Trabalho de Conclusão não publicado do curso de Bacharel do SBPV).; HARRIS, Joshua. Eu disse adeus ao namoro. Belo Horizonte, MG: Atos, 2001; WRIGHT, J. S., THOMPSON, J.A. Matrimônio. In: DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova. v. 2. p. 1012-1017.
2 D’ARAÚJO. p. 17.
3 CÁCERES. p. 58.
2 D’ARAÚJO. p. 17.
3 CÁCERES. p. 58.
4 WRIGHT, THOMPSON. p. 1014.
5 Ver MENDES. p. 7-8.
6 D’ARAÚJO. p. 17. É importante destacar que o presente autor não concorda de modo algum com as idéias atuais de Cáio Fábio, apenas usa um de seus livros, por sinal, excelente livro sobre o namoro, escrito muitos anos antes de sua derrocada espiritual, conhecida no contexto evangélico brasileiro.
7 CÁCERES. p. 58.
8 MENDES, p. 6.
9 A seqüência que segui nesse ponto encontra seu molde em CÁCERS. p. 58.
5 Ver MENDES. p. 7-8.
6 D’ARAÚJO. p. 17. É importante destacar que o presente autor não concorda de modo algum com as idéias atuais de Cáio Fábio, apenas usa um de seus livros, por sinal, excelente livro sobre o namoro, escrito muitos anos antes de sua derrocada espiritual, conhecida no contexto evangélico brasileiro.
7 CÁCERES. p. 58.
8 MENDES, p. 6.
9 A seqüência que segui nesse ponto encontra seu molde em CÁCERS. p. 58.
10 POWLINSON, YENCHKO. p. 119.
11 HARRIS, p. 189.
12 POWLINSON, YENCHKO. p. 118.
13 PIPER, John. Tópicos para conversação quando um homem e uma mulher estão considerando casar. Cuiabá, MT: Monergismo, 2006. Disponível em www.monergismo.com.
14 ; POWLINSON, David A., YENCHKO, John. Devemos nos casar?. In: SBPV. Aconselhamento Bíblico. 2 ed. Atibaia, SP: SBPV, 2000. v. 1. p. 118-127.
11 HARRIS, p. 189.
12 POWLINSON, YENCHKO. p. 118.
13 PIPER, John. Tópicos para conversação quando um homem e uma mulher estão considerando casar. Cuiabá, MT: Monergismo, 2006. Disponível em www.monergismo.com.
14 ; POWLINSON, David A., YENCHKO, John. Devemos nos casar?. In: SBPV. Aconselhamento Bíblico. 2 ed. Atibaia, SP: SBPV, 2000. v. 1. p. 118-127.
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