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    quarta-feira, 14 de setembro de 2011

    Conflito de gerações no ministério


    Cerca de cinco anos depois da queda do muro de Berlim e os regimes comunistas da Europa Oriental e Central tinham caído ou se transformado em algo bem diferente, eu tive o privilégio de falar em uma conferência para pastores em um desses países do antigo bloco oriental. Os números não eram grandes. O mais interessante era a forma como esse grupo de homens refletia o colapso. Eles estavam claramente divididos em dois grupos. O grupo mais velho – digamos, mais de quarenta ou quarenta e cinco – havia servido em suas pequenas congregações sob o antigo governo comunista. Poucos deles foram autorizados a buscar qualquer tipo de ensino superior, muito menos uma formação teológica formal. A maioria deles havia servido em uma pobreza considerável, aprendendo a confiar em Deus para a comida que eles e suas famílias necessitavam para sobreviver. Alguns tinham sido presos por causa do evangelho; todos haviam sido perseguidos. Os homens do grupo mais novo – abaixo de quarenta – eram graduados em universidades, sem exceção. Vários tinham conseguido uma formação teológica formal e dois ou três tinham começado o doutorado. Eles estavam interessados em ideias e na evolução dos rápidos desenvolvimentos culturais em seu país, agora que os meios de comunicação eram um tanto quanto mais livres. Um número considerável estava engajado no evangelismo universitário e queriam falar sobre epistemologia pós-moderna. 

    O grupo mais velho via o grupo mais novo de homens como sem prática, ignorantes das lições aprendidas pelo sofrimento, muito cerebral, vertiginosamente disperso e mal focado, convencido, impaciente e até mesmo arrogante. O grupo mais jovem via os homens mais velhos como, na melhor das hipóteses, ultrapassados: eles tinham passado da “data de validade” tanto quanto os regimes comunistas. Eles seriam mal treinados, definidos muito estreitamente pelos conflitos do passado, incapazes de evangelizar a nova geração, futilmente agarrados ao poder e mais consumidos pela tradição do que pela verdade. E, de certa forma, os dois grupos tinham razão. 

     Mais recentemente, eu falei em uma reunião denominacional de pastores em um país ocidental. Mais uma vez houve um conflito de gerações, de forma um pouco diferente. Os homens mais velhos, durante as décadas de seus ministérios, haviam combatido o liberalismo à moda antiga que havia ameaçado a denominação na juventude deles. Muitos deles tinham duras histórias de vida até a conversão e posteriormente construíram fortes cercas em torno de suas igrejas para impedir a entrada do álcool e desleixos de todo tipo. A maioria das congregações deles estava envelhecendo junto com os ministros; apenas algumas delas estavam crescendo. Eles amavam hinos e ritos de louvor mais antigos. Os homens mais jovens vestiam jeans, amavam o louvor congregacional onde a musica alcançava os 95 decibéis, eram interessados em evangelismo, e amavam conversar com os desafetos da igreja – homossexuais, ateus auto-proclamados, artistas “espirituais” de orientação mística. Alguns estavam começando estudos bíblicos e/ou igrejas incipientes em pubs. Esse grupo pensava que os homens mais velhos estavam antiquados, muito defensivos, incapazes de se comunicar com pessoas com menos de vinte e cinco anos sem soarem abafados ou até mesmo condescendentes, muito lineares e chatos em suas opiniões e, em grande parte, incapazes de se comunicar no mundo digital (exceto por e-mails, já amplamente descartado como pertencente à era dos dinossauros), meros tradicionalistas. Para os mais velhos, a mentalidade dos homens mais novos era impetuosa, desrespeitosa, apaixonados demais com o que está “por dentro” e ignorantes demais a respeito de uma teologia bem integrada, frenéticos, mas não profundos, energéticos, mas não sábios, e mais do que pouco de arrogantes. E em grande parte, os dois lados tinham razão. 

     Sem dúvidas, sempre houve conflitos de gerações de um tipo ou de outro. Discutivelmente, no entanto, de certa forma eles estão se tornando piores.
    Há pelo menos duas razões para isso. Primeiro, a velocidade das mudanças culturais está cada vez maior, fazendo com que se torne mais difícil para as pessoas mais velhas ter empatia por um mundo muito diferente daquele em que eles cresceram três ou quatro décadas atrás, enquanto se torna cada vez mais difícil para os jovens ter empatia por um mundo no qual as pessoas usavam máquinas de escrever e telefones com fio e nunca tinham ouvido falar em Facebook ou Twitter. Em segundo lugar, e mais importante, a dinâmica social da maioria das culturas Ocidentais tem mudado dramaticamente nas ultimas décadas. Os anos sessenta rasgaram enormes buracos no tecido que unia jovens e velhos, atribuindo cada vez mais autoridade aos jovens. O culto à juventude e à saúde que foi caracterizado nos anos oitenta e noventa, completo com os transplantes de cabelo e a lipoaspiração, juntamente com os condomínios fechados da classe média e o bem estar social que garantiu que as famílias não precisariam se preocupar em cuidar de, ou mesmo interagir com, a geração mais velha, construíram um mundo no qual a integração entre as linhas de gerações poderiam ser felizmente evitadas. Até mesmo as novas ferramentas digitais, que facilitariam a integração, tendem a permitir a proximidade de pessoas muito parecidas – muito diferente da forma como a igreja deveria ser, reunindo diversas pessoas remidas que possuem pelo menos uma coisa em comum, Jesus Cristo e o evangelho. Idealmente, como deveriam agir ambos os lados para honrar a Cristo e proclamar o evangelho? 

     1 – Ouvir as críticas e não se colocar na defensiva.Isso precisa ser feito em ambos os lados da divisão. É fácil rotular a crítica como hostil ou antipática e jogá-la fora. No entanto, o caminho da sabedoria é tentar discernir o que é válido na critica e o que se pode obter e aprender com ela. Pode ser que alguns pastores mais velhos não saibam muito bem como se comunicar com a geração mais jovem. Como, então, poderiam fortalecer os seus ministérios nesses domínios? Pode ser que alguns pastores mais jovens sejam impetuosos e destemperados na fala, achando mais fácil cativar seguidores fora do gabinete. Como poderia a reflexão de 1 Coríntios 2 modificar seu discurso? Mesmo a crítica bem intencionada machuca o suficiente para que as vezes nos deixemos seduzir pela postura defensiva, porque nós temos esquecido que as feridas causadas por um amigo são fiéis e nos ajudam, mas a sabedoria também ouve com cuidado e respeito mesmo a fala desrespeitosa, afim de aprender lições de outra maneira.

     2 - Esteja preparado a perguntar, “O que estamos fazendo em nossa igreja, especialmente em nossos cultos públicos, que não é prescrito pelas Escrituras e que poderia, ainda que involuntariamente, estar funcionando como uma barreira para levar o evangelho para fora?” Essa pergunta é, claramente, apenas mais uma forma de sondar sobre o quanto a tradição tem superado as Escrituras. Não há valor algum em mudar uma tradição meramente pelo motivo de mudar uma tradição. Os dois testes encobertos na minha pergunta devem ser rigorosamente observados: (a) a tradição por si só é ordenada pelas Escrituras, ou simplesmente tem uma conexão com as Escrituras altamente duvidosa? (b) A tradição ajuda somente os tradicionalistas, enquanto mantém os de fora além do alcance? Mesmo quando se faz essa pergunta, as respostas raramente são fáceis ou claras. As respostas podem ter ligação com, digamos, o que vestimos, estilos de musica, a ordem do culto, o que fazemos com o nosso antigo púlpito de madeira maciça. Em cada caso, a condução das Escrituras e da tradição pode levar a interferências conflituosas. Obviamente não há nenhum mandamento específico para um púlpito grande no meio e à frente, preferencialmente elevado para manter o pastor a um metro e meio de distância das objeções. O conhecimento das disputas históricas nos faz lembrar o porquê deste arranjo ter funcionado desde o passado: a Reforma nos ensinou que o “altar” não deveria ser central, e sim a Palavra de Deus – então os grandes púlpitos eram instalados no centro. Atualmente, no entanto, a mobília por si só pode ser sinal de algo mais para os visitantes casuais – não a centralidade da Palavra, mas a sala conferências, ou a figura do discurso autoritário. Como alguém pode enfatizar corretamente a autoridade da Palavra de Deus sem, por um lado, edificar barreiras desnecessárias, e sem, por outro lado, transformar a frente do edifício em um “palco” associado com entretenimento e performances artísticas? Excelentes pastores podem discordar no prudente desenrolar dessas reflexões em seus contextos específicos. A menos que as questões sejam tratadas com um rigor implacável, entretanto, limites inflexíveis serão estabelecidos e posições serão demarcadas de forma que servirá apenas para fomentar divisão, não a discussão. 

     3 - Sempre dirija mais atenção às coisas mais importantes, o que Paulo chama de questões de primeira importância – isso significa o evangelho, com todos os seus ricos desdobramentos, seu foco em Cristo e em sua morte e ressurreição, seu modo de justificar as pessoas perante Deus e seu poder de transformar. Então quando tomamos antipatia pelo ministério de outro pastor primeiramente porque ele pertence a outra geração, não devemos antes de tudo perguntar se o homem em questão anuncia o evangelho? Caso sim, o mais precioso parentesco já existe e deve ser cultivado. Isso não quer dizer que qualquer outra consideração deva ser ignorada. Alguns ministros são muito despreparados ao enfrentar homossexuais de uma forma fiel e cativante, ao falar a verdade em amor, ao lidar com o crescente relativismo sem soar raivoso o tempo todo, e ao evitar o hábito desagradável de cultivar uma fala sempre irônica. Mas Paulo, em Filipenses 1, entende que quaisquer sejam as deficiências e os motivos confusos de alguns ministros, se eles pregam Cristo fielmente, ele vai animá-los, e ser grato. 

     4 - Trabalhe duro para desenvolver e promover boas relações com aqueles de outra geração. Isso significa encontrar-se com eles, mesmo se, pelo menos no começo, você não gostar deles. Isso significa ouvir pacientemente e explicar um ponto de vista diferente com gentileza. Isso significa que a nova geração de ministros deve agradecer publicamente a Deus pelos ministros mais velhos, orar por eles com respeito e gratidão; isso significa que a geração de ministros mais velhos deve agradecer publicamente a Deus pela nova geração, buscando incentivá-los enquanto oram publicamente por eles. Isso significa que, idealmente, conflitos devem ser negociados pessoalmente, com muita paz, não em blogs descontrolados e que são capazes de fazer nada mais do que garantir profundas divisões para alegria de seus defensores. Isso significa refeições partilhadas, reuniões de oração compartilhadas, discussões compartilhadas. Isso significa que homens mais jovens vão procurar homens mais velhos por sua sabedoria em uma infinidade de situações pastorais; isso significar que os homens mais velhos vão procurar saber o que esses homens mais jovens estão fazendo bem e de forma eficaz, e como eles vêem o mundo e entendem a sua cultura à luz das Escrituras. Isso significa que os homens jovens vão ouvir cuidadosamente a fim de entender melhor o passado; isso significa que os homens mais velhos vão ouvir cuidadosamente a fim de entender melhor o presente. Isso significa humildade de mente e de coração, e uma paixão pela glória de Deus e pelo bem do próximo. 

    Traduzido por Marianna Brandão | iPródigo.com | Original aqui - Por Donald Carson 
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