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    domingo, 4 de outubro de 2015

    O legado de Enéas Tognini (1914-2015)


    Na última quarta-feira faleceu o reverendo Enéas Tognini aos 101 anos. Nascido em 20 de abril de 1914 em Botucatu, interior de São Paulo, Tognini foi o fundador da Igreja Batista do Povo, localizada no bairro da Vila Mariana na capital paulista, e um dos fundadores da Convenção Batista Nacional (CBN). A denominação é o braço carismático dos batistas no Brasil. O reverendo também era presidente de honra da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Na área educacional ele fundou a Faculdade Batista de Teologia da São Paulo (FTBSP) na década de 1950 e o Seminário Batista Nacional do Estado de São Paulo (SBN) em 1982. Era formado em teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul no Rio de Janeiro (RJ).

    História. Enéas Tognini era pastor na Igreja Batista de Perdizes, um bairro da zona oeste de São Paulo (SP), quando recebeu o Batismo no Espírito Santo com o falar em “novas línguas” no ano de 1958. Na época, evidentemente, tal fato escandalizou a comunidade batista e o pastor Tognini deixou o pastorado daquela igreja, além da direção do Colégio Batista Brasileiro. Apenas em 2000, a Convenção Batista Brasileira (CBB) promoveu formalmente a reconciliação com o seu antigo pastor. Ele foi grandemente influenciado pela missionária Rosalee Mills Appleby (1895–1991) e pelo pastor José Rego do Nascimento (1922-), fundador da Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte (MG), que defendiam a renovação carismática entre os batistas tradicionais.

    Legado. Qual é o grande legado desse servo de Deus? Tognini é certamente o nome mais importante quando é analisado o processo de “pentecostalização” das igrejas históricas. Diferente de muitos tradicionais, que deixaram completamente suas congregações para aderir à membresia de igrejas pentecostal, Tognini manteve suas raízes adaptando-as para a nova realidade pentecostal. Ele mesmo dizia que nunca havia deixado de ser batista e que mantinha sua fidelidade à doutrina da denominação. Ao contrário de muitos no meio carismático que correm atrás de fama e dinheiro, Tognini manteve um estilo simples e sempre dizia que o processo do Batismo no Espírito Santo o levou “a abandonar diversos ídolos”, entre eles a direção do Colégio Batista, a fama de intelectual e o pastorado da grande igreja de Perdizes. Se hoje há uma ampla aceitação dos dons espirituais entre os tradicionais, especialmente os batistas, isso se deve ao grande trabalho de homens como Enéas Tognini.

    Outra lição preciosa de Tognini é que não há limitação de idade para a obra de Deus. Ele testemunhava que foi chamado por Deus a levantar a Igreja Batista do Povo aos 66 anos. Isso mesmo, nunca é tarde demais para começar a obra enquanto estamos com vida.

    Tognini, mesmo carismático, nunca deixou de valorizar o estudo das Escrituras. Uma das primeiras atitudes como um novo pentecostal foi escrever um livro sobre a experiência. A obra Batismo no Espírito Santo escrita em 1960 é uma ótima amostragem de um homem preocupado com a exegese e a consolidação doutrinária da experiência vivida. Ele escreveu diversos livros no decorrer da vida: Geografia da Bíblia (2 volumes), Janelas para o Novo TestamentoEclesiologiaO Período Interbíblico (considerada uma das melhores obras em português sobre o assunto), A Babilônia e o Velho Testamento e História dos Batistas Nacionais, além das notas da Bíblia de Estudo de Avivamento e Renovação Espiritual e Bíblia de Estudo Shedd.

    Eis aí um ótimo legado de educação, carisma e evangelização do Brasil. Que Deus abençoe os batistas do Brasil e que nos encontremos com o irmão Enéas na glória do Nosso Senhor Jesus Cristo.

    Por Gutierres Fernandes Siqueira

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