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    quarta-feira, 24 de março de 2010

    Pobreza é sinal de maldição?



    “Jesus: Uma finalidade em si mesmo”

    Depois da ressurreição os discípulos de Jesus nunca mais o consideraram um meio para atingir suas finalidades. Para eles, Ele era o fim. Os seguidores de Cristo tinham de fato internalizado a mensagem que seu Senhor pregara através de sua vida e dos seus lábios. Depois de algumas cabeçadas, acabaram compreendendo que seu tesouro estava noutro reino e que eram simplesmente embaixadores, viajantes e peregrinos. Os discípulos também reconheceram que aqui não era seu lugar final de habitação. Descobriram que seu destino era a eternidade.
    Cristo não veio nos trazer prosperidade financeira, mas redirecionar nossa atenção para valores eternos. Até mesmo agora as palavras do Mestre ressoam com sua autoridade divina. [...] (Mt 6.19,20). Quão magnífica deve ter sido a visão daqueles que contemplaram o Senhor, de pé na praia do mar da Galileia, apelando apaixonadamente a seus seguidores que não trabalhassem por aquilo que perece, mas pelo que permanece para a vida eterna (Jo 6.27).

    Quanto ainda da Escritura precisamos para ver a bancarrota do ensino da Fé sobre a prosperidade material? Haveríamos de lembrar-nos do relato de Cristo sobre o rico e Lazáro, em Lucas 16.19-31? O rico, que passou sua vida terrena no luxo, nem ao menos foi dignificado com um nome na eternidade. Mas Lázaro, que aqui viveu em condição de extrema pobreza, recebeu consolo no Reino eterno (v.25). [...]

    A cultura norte-americana é obcecada pela mobilidade para cima, tanto social como econômica, num domínio desavergonhado do materialismo crasso, sendo precisamente disso que se tem gloriado o movimento da Fé. 

    Esse movimento alimenta-se da ideia que os ‘afilhados de Deus’ podem adquirir riquezas sem trabalho e dólares sem disciplina. Seu lema não é o auto-sacrifício, mas o autoengrandecimento. E, o que é triste, uma porção significativa do cristianismo contemporâneo tem comprado a mensagem de que só estaremos vivos nesta terra uma vez, pelo que seria melhor vivermos para nossos próprios deleites. Não mais entoamos: ‘Entrego tudo’. Antes, dizemos: ‘Trago tudo à existência pela fórmula da fé.’ [...]

    Em aguda distinção, as Escrituras nos recomendam a não nos amoldar aos padrões deste mundo, mas ser transformados mediante a renovação da mente. Somente então seremos capazes de experimentar ‘qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus’ (Rm 12.2).

    A pobreza é igual à piedade?

    Tendo dito tudo isso, deixe-me esclarecer que não associo a pobreza com a piedade (embora os pobres tenham um lugar especial no coração de Deus; veja Lucas 6.20). A questão não está com o que temos, mas no que fazemos com aquilo que temos. Nosso tempo, talento e tesouros deveriam ser usados para a glória de Deus e não para nosso lucro pessoal. Estou persuadido de que a Bíblia ensina uma certa forma de capitalismo cristão — em outras palavras, nossa responsabilidade inclui as riquezas materiais. A Bíblia, contudo, não promove a possessão de dinheiro para usufruto indiscriminado; ao contrário, encoraja-nos a usá-lo em favor do Reino de Deus.

    (HANEGRAAF, Hank. Cristianismo em crise. pp.204-206)
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